quarta-feira, 18 de abril de 2018

THEODORA


Fiquei com Theodora ao meu lado noites seguidas em Budapeste
Nossa atração foi fulminante
Theodora azul celeste
Em contraste com um vermelho escuro a lhe vestir
Vermelho quase sangue coagulado
provido de força e intensidade

Tudo, com Theodora, aconteceu de repente
Theodora, com todas as suas contradições, foi pra mim uma dádiva imperial, divina

Primeiro nos vimos no Prima Market, a uma quadra da Basílica
Mário me ajudou a levá-la até o quinto andar do edifício na Zichy Utca
Para um apartamento destes que ficam no teto dos prédios
Feitos para serem moradia de serviçais que não existem mais faz tempo
E hoje são alugados pelo airbnb para turistas pobres como eu

Para subir, tinha um elevador que parecia saído de um filme soviético
Mas Theodora não disse nada, não reclamou, não mostrou surpresa
Não deu mostras de estranhamento por estar num ambiente tão plebeu

A esta altura, aos meus olhos, Theodora parecia perfeita
Nobre e simples, transparente e forte

Depois da primeira impressão, minha Kékkúti mostrou-se um pouco amarga
Carregada de sais, um pouco aerada e com porte de imperatriz bizantina
Bebi Theodora aos poucos, noite após noite,

Nas madrugadas frias e brancas de neve
Em minha boca sedenta, Theodora aparecia doce e delicada
Irrigava meus sonhos mais intensos e me enchia de vida

Theodora foi pra mim um presente dos deuses
E fez cada uma daquelas noites de neve e frio
uma lembrança inesquecível de Budapeste.