Essa rosa
amanhã será rosa
amanhã será vermelha
amanhã será
amanhecerá
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Preso
Preso a uma loucura que parecia não ter fim
produzia asmas azuis e espinhava minha pele.
Minha alma atordoada
não enxergava a arquitetura etérea dos andaimes do ódio,
não via a realidade dos olhos verdes,
não sabia de certeza sabida do amor-paixão-desejo,
não admitia o fim dos cristais,
a explosão do tempo, a certeza dos iguais.
Preso a um ódio
que me vergou toda uma vida
afogava o homem em dor de árvore abatida a machado.
Um ódio arqueado,
arquitetura de dores cruéis num coração paralítico,
nas mãos crispadas em aço negro,
na fúria contida em orgasmos loucos,
no lago verde e no pântano verde sob a lua verde.
Um ódio mineral,
pedra turquesa, diamante bruto, rastro de sangue
incrustado no cérebro.
É pelo lodo que andava.
Como verme lambuzado de ouro
ignorava o calor da lua,
a beleza das ancas em movimento,
as lágrimas, os beijos carregados.
Andava sem sentido e sem erro
pela estrada em chamas
onde cavalos de ferro davam pataços no asfalto.
Ali nada cresceria por mil anos.
Da terra arrasada sobrariam cinzas,
galhos retorcidos
em negro.
O que é possível será feito
e todos verão o pássaro da luz
no mar dos pardais.
Teus olhos me olham tristes.
Tua boca pergunta por quê?
Eu não sei dizer....
É muito cedo para morrer...
Sei que o amor se faz urgente:
trazido em potes de barro azul,
inundou o vácuo do meu coração.
Hoje sei
que o amor sustenta as colunas do mundo
e nenhum medo alimentaria as manhãs que somos.
produzia asmas azuis e espinhava minha pele.
Minha alma atordoada
não enxergava a arquitetura etérea dos andaimes do ódio,
não via a realidade dos olhos verdes,
não sabia de certeza sabida do amor-paixão-desejo,
não admitia o fim dos cristais,
a explosão do tempo, a certeza dos iguais.
Preso a um ódio
que me vergou toda uma vida
afogava o homem em dor de árvore abatida a machado.
Um ódio arqueado,
arquitetura de dores cruéis num coração paralítico,
nas mãos crispadas em aço negro,
na fúria contida em orgasmos loucos,
no lago verde e no pântano verde sob a lua verde.
Um ódio mineral,
pedra turquesa, diamante bruto, rastro de sangue
incrustado no cérebro.
É pelo lodo que andava.
Como verme lambuzado de ouro
ignorava o calor da lua,
a beleza das ancas em movimento,
as lágrimas, os beijos carregados.
Andava sem sentido e sem erro
pela estrada em chamas
onde cavalos de ferro davam pataços no asfalto.
Ali nada cresceria por mil anos.
Da terra arrasada sobrariam cinzas,
galhos retorcidos
em negro.
O que é possível será feito
e todos verão o pássaro da luz
no mar dos pardais.
Teus olhos me olham tristes.
Tua boca pergunta por quê?
Eu não sei dizer....
É muito cedo para morrer...
Sei que o amor se faz urgente:
trazido em potes de barro azul,
inundou o vácuo do meu coração.
Hoje sei
que o amor sustenta as colunas do mundo
e nenhum medo alimentaria as manhãs que somos.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Esta noite
Esta noite
sairei pelas ruas de Amsterdam
com meu pala e meu coração perdido
Levarei na mão direita uma rosa
e na esquerda tuas cartas
como se fossem um sol do meu país
cuspirei em todos os canais
enviarei mensagens de amor
por cem pombos-correio
e ao amanhecer me encontrarão
bêbado e triste
recitando poemas
pra holandês ver
em Leidsplein
Eu sei
os pombos sem dúvida
morrerão no Atlântico
Mas se acaso
algum deles for encontrado
saberão que no mundo existe
um amor invencível
sairei pelas ruas de Amsterdam
com meu pala e meu coração perdido
Levarei na mão direita uma rosa
e na esquerda tuas cartas
como se fossem um sol do meu país
cuspirei em todos os canais
enviarei mensagens de amor
por cem pombos-correio
e ao amanhecer me encontrarão
bêbado e triste
recitando poemas
pra holandês ver
em Leidsplein
Eu sei
os pombos sem dúvida
morrerão no Atlântico
Mas se acaso
algum deles for encontrado
saberão que no mundo existe
um amor invencível
domingo, 4 de dezembro de 2011
Hoje não estás
Hoje não estás
no lado esquerdo da cama
Hoje
tenho apenas tua tua ausência
os medos comuns
e alguns desconhecidos
de te perder
Medos idiotas, eu sei
medos loucos, medos
de amor
É que a saudade
esta puta sempre triste e cinzenta
sentou à minha mesa
e fuma meus cigarros
um atrás do outro
Eu queria tanto
dizer que te amo tanto
mas de um jeito tão enorme de grande
que todas as mulheres do mundo
morreriam de inveja
Por isto
quando chegares daqui a pouco
guerreira e cansada do trabalho
desculpa o jeito meio atravessado
é que eu te amo tão assim
que eu nem sei
no lado esquerdo da cama
Hoje
tenho apenas tua tua ausência
os medos comuns
e alguns desconhecidos
de te perder
Medos idiotas, eu sei
medos loucos, medos
de amor
É que a saudade
esta puta sempre triste e cinzenta
sentou à minha mesa
e fuma meus cigarros
um atrás do outro
Eu queria tanto
dizer que te amo tanto
mas de um jeito tão enorme de grande
que todas as mulheres do mundo
morreriam de inveja
Por isto
quando chegares daqui a pouco
guerreira e cansada do trabalho
desculpa o jeito meio atravessado
é que eu te amo tão assim
que eu nem sei
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
História
Me contarás tua história?
Dirás: eu fui tornada tonta
doida, magra
quebrada como um pote de sangue
ao amanhecer?
Dirás: me fizeram seca feito faca?
Punhal e faca cortei os pulsos
do mundo? morri
nas ruas dispersas?
despedaçada?
Dirás: o vento me espalhou
por todos os cantos?
nas quatros estações?
eu fui molhada, malhada, medrada?
fiz política para passar o tempo?
Dirás: tenho olhar de melados pela manhã?
cabelos de chuva em negras noites?
lábios estranhos? estranhos?
Me contarás tua história?
Dirás: eu fui tornada tonta
doida, magra
quebrada como um pote de sangue
ao amanhecer?
Dirás: me fizeram seca feito faca?
Punhal e faca cortei os pulsos
do mundo? morri
nas ruas dispersas?
despedaçada?
Dirás: o vento me espalhou
por todos os cantos?
nas quatros estações?
eu fui molhada, malhada, medrada?
fiz política para passar o tempo?
Dirás: tenho olhar de melados pela manhã?
cabelos de chuva em negras noites?
lábios estranhos? estranhos?
Me contarás tua história?
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Todo o meu amor
Todo o meu amor estava ali
nos olhos brilhantes e na carne vermelha, no sangue espremido nas veias
na noite torta e perdida dum tempo estranho
Você deixou escorrer como a água da massa no escorredor, água suja e quente e oleosa e salgada
nos ralos da cidade
a alimentar os meus inimigos
Você deixou escapar, você perdeu, você não quis, você não acreditou, você não acreditou, você não acreditou
Quase morri soterrado sob o peso dos meus sonhos
andei louco pelos caminhos
lutei guerras que eu não queria
perdi tantas batalhas e quase pereço
fiquei com a alma assim em negativo, em preto e branco, feito contraste em destaque na montanha
até que me ergui sobre os escombros da noite escura
afastei fantasmas e armadilhas, venci batalhas que ninguém queria lutar
e tracei meus destinos a faca na palma da minha mão
O tempo tinha muitas voltas naquele tempo e uma criança não podia sorrir impunemente
de todas as mulheres que o mundo tinha você tinha as ancas que a minha mão buscava
toda a paisagem vinha em cores fortes na tua presença
e o verde dos teus olhos enchia meu coração de esperança e alegria
não morri naquele tempo porque não valia a pena morrer
valia mais viver para amar
e amar-te tornou-se o meu maior vício
Passei a te cultivar em doses crescentes de amor
do contrário seria o fim, seria a solidão, seria a vida sem sentido que eu vejo
por aí
Passei a controlar o tempo
e a dor, a controlar a desordem natural das coisas nos descaminhos da vida vivida num tempo sem noção
a fazer de tudo uma diária desconexão, uma conversa digital interrompida pela vida
real
Eu sei que a vida não é isso que dizem nem acaba na esquina na mira de um vagabundo,
a vida é o que eu tenho decor e de mim faço eu o que eu quero
e meu anjo, eu quero mesmo é te amar até amanhecer, até o sol erguer-se no horizonte
bola de fogo flamejante
para mostrar os caminhos escondidos que nos levam aonde sempre queremos ir.
nos olhos brilhantes e na carne vermelha, no sangue espremido nas veias
na noite torta e perdida dum tempo estranho
Você deixou escorrer como a água da massa no escorredor, água suja e quente e oleosa e salgada
nos ralos da cidade
a alimentar os meus inimigos
Você deixou escapar, você perdeu, você não quis, você não acreditou, você não acreditou, você não acreditou
Quase morri soterrado sob o peso dos meus sonhos
andei louco pelos caminhos
lutei guerras que eu não queria
perdi tantas batalhas e quase pereço
fiquei com a alma assim em negativo, em preto e branco, feito contraste em destaque na montanha
até que me ergui sobre os escombros da noite escura
afastei fantasmas e armadilhas, venci batalhas que ninguém queria lutar
e tracei meus destinos a faca na palma da minha mão
O tempo tinha muitas voltas naquele tempo e uma criança não podia sorrir impunemente
de todas as mulheres que o mundo tinha você tinha as ancas que a minha mão buscava
toda a paisagem vinha em cores fortes na tua presença
e o verde dos teus olhos enchia meu coração de esperança e alegria
não morri naquele tempo porque não valia a pena morrer
valia mais viver para amar
e amar-te tornou-se o meu maior vício
Passei a te cultivar em doses crescentes de amor
do contrário seria o fim, seria a solidão, seria a vida sem sentido que eu vejo
por aí
Passei a controlar o tempo
e a dor, a controlar a desordem natural das coisas nos descaminhos da vida vivida num tempo sem noção
a fazer de tudo uma diária desconexão, uma conversa digital interrompida pela vida
real
Eu sei que a vida não é isso que dizem nem acaba na esquina na mira de um vagabundo,
a vida é o que eu tenho decor e de mim faço eu o que eu quero
e meu anjo, eu quero mesmo é te amar até amanhecer, até o sol erguer-se no horizonte
bola de fogo flamejante
para mostrar os caminhos escondidos que nos levam aonde sempre queremos ir.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Sentimentos
Todos os sentimentos
estão aqui
A tua presença
água verde, seios
cristalinos, ancas
ondas
quebrando as costelas
A tua ausência
o branco e o preto
o silêncio seco
o peito árido
Desertos
Eu
feito touro
às vezes
o coração feito
tigre
O vinho
me mantém no ar
Gritos de guerra
lanças
fronteira de sonhos
vento
duas mãos
e nenhuma arma
A certeza
a dor
o ódio
o amor
em desordem
Os séculos passam
Só o vinho
me mantém no ar
estão aqui
A tua presença
água verde, seios
cristalinos, ancas
ondas
quebrando as costelas
A tua ausência
o branco e o preto
o silêncio seco
o peito árido
Desertos
Eu
feito touro
às vezes
o coração feito
tigre
O vinho
me mantém no ar
Gritos de guerra
lanças
fronteira de sonhos
vento
duas mãos
e nenhuma arma
A certeza
a dor
o ódio
o amor
em desordem
Os séculos passam
Só o vinho
me mantém no ar
domingo, 27 de novembro de 2011
Amor orkutiano
eu te amo
amor tecnológico
digital,
bite a bite
eu te amo em rede
sentimento total
programático
um beijo orkutiano
amor tecnológico
digital,
bite a bite
eu te amo em rede
sentimento total
programático
um beijo orkutiano
face to face
aberto
um enter que aceita
tudo o que vem
aberto
um enter que aceita
tudo o que vem
depois
eu sou
servidor sem erro
hospedagem segura
paixão banda larga
na noite escura
eu sou
servidor sem erro
hospedagem segura
paixão banda larga
na noite escura
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Tem dias que não adianta
Tem dias que não adianta
não se pode dizer Meu Amor
uivar para a lua
beijar da boca ao interior da coxa
brigar com o outro
o coração entre as costelas
reclama da geografia
e suporta
o peso das horas
com dificuldade
queria estar
a mil quilômetros daqui
pulsando junto
à classe operária brasileira
e antes de tudo
junto contigo
minhas mãos
segurando teus seios
como dois sóis
no horizonte das tardes
não se pode dizer Meu Amor
uivar para a lua
beijar da boca ao interior da coxa
brigar com o outro
o coração entre as costelas
reclama da geografia
e suporta
o peso das horas
com dificuldade
queria estar
a mil quilômetros daqui
pulsando junto
à classe operária brasileira
e antes de tudo
junto contigo
minhas mãos
segurando teus seios
como dois sóis
no horizonte das tardes
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Trago o tempo
Trago o tempo para sempre
trago as mãos e uns pedaços
trago o que não tenho sobretudo
O dia de hoje não tem memória
não tem horizontes
além das paredes
deste quarto teatino
BNH improvisado
desconhecido da polícia
numa cidade dura
num tempo duro
Dormindo ao meu lado
ela tem um coração vermelho
a oitenta rotações por minuto
coração movido a álcool
e a esperança de classe
Drummond que me desculpe
este é um tempo decisivo
amo e pronto
Não adianta quere mais nada
fazer mais nada, dizer mais nada
trago as mãos e uns pedaços
trago o que não tenho sobretudo
O dia de hoje não tem memória
não tem horizontes
além das paredes
deste quarto teatino
BNH improvisado
desconhecido da polícia
numa cidade dura
num tempo duro
Dormindo ao meu lado
ela tem um coração vermelho
a oitenta rotações por minuto
coração movido a álcool
e a esperança de classe
Drummond que me desculpe
este é um tempo decisivo
amo e pronto
Não adianta quere mais nada
fazer mais nada, dizer mais nada
sábado, 19 de novembro de 2011
Um dia depois do outro
Os homens não sabem quanto é inútil
contar os dias, as horas
os minutos
com os números frios da matemática
quando eu me levantar
a vontade que eu tenho
é rasgar o cenário do dia
com as duas mãos que eu tenho
e subir clandestino
no primeiro avião
as regras, eu não respeito as regras
e hoje me sinto
anterior a tudo
meus companheiros nunca disseram
que o amor podia ser tão grande
e a saudade, tão dura
Eu te amo
e vou repetir sempre
tantas vezes que terão de inventar
uma nova matemática
Mesmo assim
quando acontecer já será inútil
porque de novo não terão como calcular
quantas vezes eu te disse
eu te amo
Agora
eu queria te dizer uma coisa
uma só
Não te amo muito
ou pouco ou
demais
Não te amo como nos filmes de Hollywood
como nas novelas da Globo
ou nas peças de Shakespeare
Nem te amo talvez
como tu queres
Eu te amo como sou
com meus díspares de meias
meus defeitos todos
meus acertos poucos
meus medos
minhas bandeiras ao vento
com o que trago dentro
do coração:
eu
contar os dias, as horas
os minutos
com os números frios da matemática
quando eu me levantar
a vontade que eu tenho
é rasgar o cenário do dia
com as duas mãos que eu tenho
e subir clandestino
no primeiro avião
as regras, eu não respeito as regras
e hoje me sinto
anterior a tudo
meus companheiros nunca disseram
que o amor podia ser tão grande
e a saudade, tão dura
Eu te amo
e vou repetir sempre
tantas vezes que terão de inventar
uma nova matemática
Mesmo assim
quando acontecer já será inútil
porque de novo não terão como calcular
quantas vezes eu te disse
eu te amo
Agora
eu queria te dizer uma coisa
uma só
Não te amo muito
ou pouco ou
demais
Não te amo como nos filmes de Hollywood
como nas novelas da Globo
ou nas peças de Shakespeare
Nem te amo talvez
como tu queres
Eu te amo como sou
com meus díspares de meias
meus defeitos todos
meus acertos poucos
meus medos
minhas bandeiras ao vento
com o que trago dentro
do coração:
eu
Luto
Que triste serei eu
de hoje em diante
vendo morrer uma
a uma
as mulheres
da minha vida
Nunca mais
um gesto sólido
nunca mais
uma certeza completa
nunca mais
De agora em diante já não sei mais
porque lutei todas as guerras
que ninguém mais queria
porque criei de manhã
o que destruí à noite
porque fiz de mim
o que é nada
Quando o sol se levanta no horizonte
com a força do leão na caçada
amanheço nú e mastigo fragmentos do dia
sentado imóvel na calçada da morte
Eu não queria o peso das horas
fixado nas paredes do tempo
anunciando o fim e o começo
Luto
luto feito leão ferido na clareira da vida
Hoje
minha tristeza não tem fim
Tudo
Tudo tem uma cor desbotada e sem sal.
Até o cadarço do sapato jaz sem sentido.
Luto
feito leão de fogo no horizonte das tardes.
Devia
ser proibido
às mulheres de um homem
morrerem antes,
assim.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Uma vez na vida
Uma vez na vida
perdi tudo o que eu
tinha
perdi esperança verde
perdi móveis
perdi
sonhos
perdi tudo
num caminhão de mudanças
descendo a Serra
do Mar
não lembro se era verão
não lembro de quase nada
só sei que foi acidente
sob chuva
torrencial
perdi
numa viagem
da São Paulo monumental
de volta pra Porto
Alegre
foi
num caminho
tortuoso
caiu água dos céus
levou tudo
não sobrou
nada
perdi até
uma mulher que eu tinha
e já não tinha mais
perdida já estava antes
fui saber muito
depois
quase tarde demais
perdi roupas e lençóis
móveis e utensílios
pratarias que não tinha
mais coisas de vida inteira
perdi dores
perdi
pedaços da alma perdi
até sonhos de mudar o mundo
de um jeito que já se foi
perdi minha biblioteca
merda
perdi minha biblioteca
por pouco não me perdi
e pensando bem
talvez tenha perdido
uns pedaços grandes
de mim
perdi tudo o que eu
tinha
perdi esperança verde
perdi móveis
perdi
sonhos
perdi tudo
num caminhão de mudanças
descendo a Serra
do Mar
não lembro se era verão
não lembro de quase nada
só sei que foi acidente
sob chuva
torrencial
perdi
numa viagem
da São Paulo monumental
de volta pra Porto
Alegre
foi
num caminho
tortuoso
caiu água dos céus
levou tudo
não sobrou
nada
perdi até
uma mulher que eu tinha
e já não tinha mais
perdida já estava antes
fui saber muito
depois
quase tarde demais
perdi roupas e lençóis
móveis e utensílios
pratarias que não tinha
mais coisas de vida inteira
perdi dores
perdi
pedaços da alma perdi
até sonhos de mudar o mundo
de um jeito que já se foi
perdi minha biblioteca
merda
perdi minha biblioteca
por pouco não me perdi
e pensando bem
talvez tenha perdido
uns pedaços grandes
de mim
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Mudança
Uma vez, menino,
subi num telhado de porcos
para comer laranjas.
Do alto
a grama verde era um mar
com campos de arroz à direita,
e montanhas escuras ao longe,
do outro lado do vale,
ao alcance da mão.
Na extensão da tarde,
verão, febril,
a terra sussurrava e gemia.
Gata no cio, cavalo no campo, avião no céu,
vaca pastando, sabiá cantando, solidão animal.
O leão de fogo mergulhou no horizonte.
Os porcos, focinhando o chão, não enxergavam o mundo.
Quando desci, foi para nunca mais ser o mesmo.
subi num telhado de porcos
para comer laranjas.
Do alto
a grama verde era um mar
com campos de arroz à direita,
e montanhas escuras ao longe,
do outro lado do vale,
ao alcance da mão.
Na extensão da tarde,
verão, febril,
a terra sussurrava e gemia.
Gata no cio, cavalo no campo, avião no céu,
vaca pastando, sabiá cantando, solidão animal.
O leão de fogo mergulhou no horizonte.
Os porcos, focinhando o chão, não enxergavam o mundo.
Quando desci, foi para nunca mais ser o mesmo.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Escrever versos
Escrever versos
é como andar de bicicleta.
O pé empurra para baixo
com raiva do mundo
e o mundo desliza
para trás.
No horizonte
o céu e a terra se encontram
sem maiores problemas.
O paraíso fica exatamente
um metro e meio depois.
Descobri aos oito anos
no dia em que subi num poste
pra mastigar uma nuvem.
Fiquei achando
Pedro Álvares Cabral
um idiota perto de mim.
Mundo, mundo vasto mundo
se eu me chamasse Astrogildo
seria o fim.
Ou quem sabe o começo?
Escrever versos
é como andar de bicicleta
O pé empurra para baixo
com raiva do mundo
e o mundo gira
em torno do sol.
Gira e apodrece
como uma maçã, como
uma pera argentina, como
um tomate paulista, febril
no centro da cesta.
Mas você fica linda
com esse casaco vermelho
esse batom vermelho
e o coração vermelho.
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