Quando eu nasci
Não tinha nenhum anjo perto de mim.
Então, eu mesmo disse:
Merda!
Depois
a cada vez que eu morri
fui renascendo mais duro
mais velho, mais só.
Hoje
não adianta dizer mais:
meu amor.
O amor dorme bêbado e fugitivo
à minha esquerda.
Não adianta dizer mais:
vamos juntos
colher pássaros azuis no horizonte.
Não adianta dizer mais:
eu te amo como um caminhão,
um caminhão vermelho.
Sobra uma única certeza:
a vida há de prosseguir
miserável como antes,
solitária como antes,
dura como antes.
Mas vamos estar inteiros
porque nenhum braço meu
ficará preso ao impossível.
Nenhuma perna minha
ficará perdida
nas esquinas do tempo.
Só meu coração, talvez,
esse peso inútil
no lado esquerdo do peito,
eu deixarei em casa
sobre a escrivaninha.
Segurando papéis e panfletos
como uma pedra
ou uma espátula.
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