quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Tempo


Vivi num tempo em que o tempo existia
Levava-se horas para ir de um lugar a outro e
no inverno
tomava-se banho uma vez por semana

No verão
até banho de chuva
pelado
no campo
cercado de horizontes
era permitido

A água caía limpa
em grossas gotas mornas
lavando o corpo e os
pecados


Agora, não existe mais tempo
Inventaram a fibra ótica e a gente
vai poder estar em qualquer parte
num segundo

Agora,
via fax,
a distância entre a minha casa
e a Praça do Avião
é mesma que daqui
até o Japão

Por isso
agora que não existe mais tempo
ou distância
só nos resta concluir
que não existimos mais
nem existe mais nada
ou coisíssima alguma

Eu, de minha parte, me precavi
Trago no bolso esquerdo
sempre um pouco de tempo
enquanto que no direito
guardo alguma distância

Minha distância é feita
de horizontes sem fim,
e o tempo
é dos que não existem mais
É feito de noite e dia
e dá direito
às quatro estações

Nenhum comentário:

Postar um comentário