Vivi
num tempo em que o tempo existia
Levava-se
horas para ir de um lugar a outro e
no
inverno
tomava-se
banho uma vez por semana
No
verão
até
banho de chuva
pelado
no
campo
cercado
de horizontes
era
permitido
A
água caía limpa
em
grossas gotas mornas
lavando
o corpo e os
pecados
Agora,
não existe mais tempo
Inventaram
a fibra ótica e a gente
vai
poder estar em qualquer parte
num
segundo
Agora,
via
fax,
a
distância entre a minha casa
e
a Praça do Avião
é
mesma que daqui
até
o Japão
Por
isso
agora
que não existe mais tempo
ou
distância
só
nos resta concluir
que
não existimos mais
nem
existe mais nada
ou
coisíssima alguma
Eu,
de minha parte, me precavi
Trago
no bolso esquerdo
sempre
um pouco de tempo
enquanto
que no direito
guardo
alguma distância
Minha
distância é feita
de
horizontes sem fim,
e
o tempo
é
dos que não existem mais
É
feito de noite e dia
e
dá direito
às
quatro estações
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