sábado, 15 de dezembro de 2012

Quando eu nasci

Quando eu nasci
Não tinha nenhum anjo perto de mim.
Então, eu mesmo disse:
Merda!

Depois
a cada vez que eu morri
fui renascendo mais duro
mais velho, mais só.

Hoje
não adianta dizer mais:
meu amor.
O amor dorme bêbado e fugitivo
à minha esquerda.
Não adianta dizer mais:
vamos juntos
colher pássaros azuis no horizonte.
Não adianta dizer mais:
eu te amo como um caminhão,
um caminhão vermelho.

Sobra uma única certeza:
a vida há de prosseguir
miserável como antes,
solitária como antes,
dura como antes. 

Mas vamos estar inteiros
porque nenhum braço meu
ficará preso ao impossível.
Nenhuma perna minha
ficará perdida
nas esquinas do tempo.
Só meu coração, talvez,
esse peso inútil
no lado esquerdo do peito,
eu deixarei em casa
sobre a escrivaninha.
Segurando papéis e panfletos
como uma pedra
ou uma espátula. 

Amor

Ela veio depois da chuva
entrou na minha vida como um rinoceronte
um rinoceronte azul

Não deixou pedra sobre
pedra
revirou meu coração
chafurdou na minha cama
e disse sorrindo
que já era minha dona

Aos poucos
foram nascendo flores na casa
uma nova construção dos gestos e do tempo
a água e o cimento misturados com as mãos
o riso e a lágrima soldados com beijos
os gritos, os sentimentos roubados
em desordem, filhas

Eu queria lhe dar uma estrela
e os céus
os céus só me enviaram relâmpagos

Miseráveis

Felizmente
a vida é muito mais bonita que a poesia

Acordei com saudades

Estranho
faz cinco anos
              - seis? -
um dia ela disse
   tchau!
   Quem está vivo
   sempre se encontra.

Depois
vieram atalhos
viagens, desprezos
loucuras e prazeres

             Habitei
             centenas de lugares
             rasguei o mundo
             com as mãos
             abri
             milhares de portas
             e não estavas
             atrás de nenhuma

Eu me lembro
o que ela tinha de melhor
era um sorriso
um jeito

Hoje eu duvido
quem está vivo
nem sempre se encontra

Todos os sentimentos estão aqui

A tua presença
água verde, seios
cristalinos, ancas
ondas
quebrando as costelas

A tua ausência
o branco e o preto
o silêncio seco
o peito árido

Desertos

Eu
feito touro às vezes
o coração feito
tigre

O vinho
me mantém no ar

Gritos de guerra
lanças
fronteira de sonhos
vento
duas mãos
e nenhuma arma

A certeza
a dor
o ódio
o amor
em desordem

Os séculos
passam

Só o vinho
me mantém
no ar.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Hollywood

Eu te amo 
e vou repetir sempre
tantas vez que terão de inventar
uma nova matemática

Mesmo assim
quando isso acontecer já será inútil
porque de novo não terão como calcular
quantas vezes eu te disse
eu te amo

Agora
eu queria te dizer uma coisa
uma só

Não te amo muito
ou pouco ou
demais

Não te amo como nos filmes de Hollywood
como nas novelas da Globo
ou nas peças de Shakespeare

Nem te amo 
talvez
como queres

Eu te amo
como
sou

Com meus díspares de meias
meus defeitos todos
meus acertos poucos
meus medos
minhas bandeiras ao vento
com tudo o que trago dentro
do coração

Exagerado


Obstáculo intransponível
dar conta de amor tamanho
por breve o tempo
da minha vida

Certeza intransferível
da urgência do presente
Exagerada paixão
Paixão exagerada

Inútil


Inútil insistir na espera.
O trem do amor
passou.

Agora
tudo foi em vão.
A estação da vida
agora
foi.

Resta pouco.
Resta tempo.
Mármore branco
sobre tudo.

Inexorável.

Limite

No centro da casa
a loucura cobra o seu preço:
o mundo adquire contornos
paisagem após a miséria
cotidiana

Não existe rota de fuga ou certeza
Somente os apaixonados acreditam na eternidade do futuro
Agora cabe construir o tempo com mãos frágeis

       Difícil conquista
       entre o cinza concreto
       e as margaridas
       azuis, margaridas verti
       cais, margaridas fi
       xas, margaridas a
       margas




Tempo


Vivi num tempo em que o tempo existia
Levava-se horas para ir de um lugar a outro e
no inverno
tomava-se banho uma vez por semana

No verão
até banho de chuva
pelado
no campo
cercado de horizontes
era permitido

A água caía limpa
em grossas gotas mornas
lavando o corpo e os
pecados


Agora, não existe mais tempo
Inventaram a fibra ótica e a gente
vai poder estar em qualquer parte
num segundo

Agora,
via fax,
a distância entre a minha casa
e a Praça do Avião
é mesma que daqui
até o Japão

Por isso
agora que não existe mais tempo
ou distância
só nos resta concluir
que não existimos mais
nem existe mais nada
ou coisíssima alguma

Eu, de minha parte, me precavi
Trago no bolso esquerdo
sempre um pouco de tempo
enquanto que no direito
guardo alguma distância

Minha distância é feita
de horizontes sem fim,
e o tempo
é dos que não existem mais
É feito de noite e dia
e dá direito
às quatro estações

Impossível


O horizonte
nunca é o mesmo
no horizonte.

Como
um rinoceronte azul
numa cristaleira.

Memória


A vida que eu tive
hoje é passado
passado
não morto e enterrado
porque ódio não tenho
tenho a memória em retalhos 

Inominável


Todos os dias como peras
todos os dias como
peras
sob o sol
calor e suor
solerte
salmos e sós
como rosas
despetaladas
testemunha da vida
que houve
do vermelho
desfiando a paisagem
e agora quase nada
quase tudo
na beleza que há
cheiro de rosas no cio
perfume das coxas
seios delicados
montanhas de prazer
um grito, um gemido
igual a si próprio
inominável ventre
do paraíso
melhor que tudo do amor
eu não sei dizer.

Nós


Nós amamos
em condições
adversas.

Naufrágio


O amor se esborrachou no meio do caminho

Lutei
até mais não poder

Agora
meu coração leva tombos
entre as costelas

Náufrago de sonhos
afogo incertezas
cachaça
limão e gelo

Um homem
confrontado com seus limites
a assistir impassível
o trabalho do tempo
tecendo a explosão dos dias
em horas incontroláveis

Modernidade


Drummond que me desculpe:
O dia de hoje não tem memória
e este é um tempo decisivo
tempo de coma alcoólica
e discurso improvisado

Aos poucos
a cidade se move
cidade dura
num tempo duro
cheio de ruas
decisivas, esquinas
incontroláveis, restos
das horas.

Amor


Ando em em nuvens
quando te vejo
Tenho forças
sentimentos exagerados
Exagerados

Te amo
sem saber quanto

Sei
que não cabe em mim

Cidade


Muros de cimento
O cinza penetra os ossos
e quebra

O vinho, a cachaça, o sonho, a cerveja,
                                    o conhaque, o delírio
é melhor

As ruas
da minha cidade
não têm esquinas

                      ou fuga
                      possível

Inútil
a diária
brutalidade

Fim


Agora é a ante-véspera do fim

Nenhuma tragédia, nenhum drama, nenhum
transcrescimento, apenas um
triste e melancólico
fim

Um fim
solitário
inacessível
distante além da distância
fim em si mesmo
nuclear, fatal

Um fim somente
demente
incompreensível
anterior a tudo
posterior a nada

Um fim desfecho
desenlace, limite, esgotamento
exaustão

Um fim extremado
conclusivo, consumido
finalizado

Um fim medíocre
reles
desses que não tem significado
não são esperados
ninguém lembra
não tem qualquer
importância

Um fim
simples, um fim
que encerra, que acaba, que fecha, que
extingue, termina, cessa, mata e que
é triste por isso: porque
é apenas um triste
melancólico
medíocre
fim

Pequeno


Hoje não estás
no lado esquerdo da cama

Hoje
tenho apenas tua ausência
os medos comuns
e alguns desconhecidos
de te perder

Medos idiotas, eu sei
medos loucos, medos
de amor

É que a saudade
esta puta sempre triste e cinzenta
sentou a minha mesa
e fuma os meus cigarros
um atrás do outro

Eu queria tanto
dizer que te amo tanto
mas de um jeito tão enorme de grande
que todas as mulheres do mundo
morreriam de inveja

Por isto
quando chegares daqui a pouco
guerreira e cansada do trabalho
desculpa o jeito meio atravessado
é que eu te amo tão assim
que eu nem sei

A força que move o sol
move o universo
em que te moves

Notas


O dia de hoje não tem memória
atravessou a noite feito celerado 
enquanto milhares de rosas bateram asas para o oeste azul
e a água solitária restou sobre a mesa doendo pássaros feridos nos olhos

No lado norte da vida
quebraram minhas costelas e o silêncio seco
Mas a lua grande nas costas foi insuficiente para enterrar meu coração na estrada

O sol e a incerteza moveram a cidade e as esquinas duras cheias de desvios cristalizados
Revirei o verde dos teus olhos com um punhal até encontrar a luz ardente
Cortei corpos pelo caminho e só enterrei meus mortos necessários
Construí impérios sobre o vermelho e mudei a paisagem
Não disse adeus, não disse quase nada

Não

O dia de hoje não tem memória nem fotografia
atravessou a noite feito celerado cortando pedaços de noite com um machado
milhares de rosas bateram asas para o oeste azul em busca do sol cálido
e a água solitária restou sobre a mesa doendo pássaros feridos 

Não disse adeus, não disse quase nada
Mergulhei no verde dos teus olhos até encontrar a luz ardente

Este tempo é andaime comprometido com a beleza da emoção
que fiquem sabendo as mulheres que serão paridas
as raízes, a lua áspera

Este tempo é um e se multiplica nos céus esverdeados
que fiquem sabendo as ruas tortas, os becos de chumbo
as estrelas solitárias

Quando começar a guerra interminável
minha boca gritará gritos de tigre durante o ataque fulminante
mas sempre sobrará tempo
para dar-te um beijo
tempo para um sorriso diante do verde mar dos teus olhos verdes
nas tardes verdes do nosso tempo

Quando acabarem minhas culpas terei construído um edifício de mármore azul
uma pirâmide de gestos delicados para ser vista no lado avesso do mundo
e uma estrada de oito pistas

Quando acabarem minhas culpas lavarei o assoalho da minha alma com água cristalina
e deixarei meu coração vermelho exposto ao sol, ainda que o sol de mim tenha ciúmes

Eu sei, nada será como antes
O sol e a incerteza moveram a cidade e as esquinas duras cheias de desvios cristalizados
Muitas pontes se foram durante o caminho das pedras
Ruíram no rio das horas intermináveis que não pudemos suportar

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Uma rosa

Te dou uma rosa que não é
uma rosa mas o lado
norte
do meu coração

É que os outros
os outros, meu amor
não servem pra ninguém, nem pra
nada
a não ser para encherem-se de
medo às vezes
ódio, dúvida e outras coisas
absurdas
como o aço de um punhal
ou a compaixão
por nossos
inimigos

Mas apesar de tudo
desde hoje e para sempre
uma coisa é certa
                 esta rosa
que não é uma
rosa seguirá em tuas
mãos assim como
tu
seguirás comigo
                ao assalto
               ao assalto
                  dos céus

FINAL


Ela saiu da minha vida
como um rinoceronte
um rinoceronte
de aço
dono de toda fúria
de toda raiva, de todo
ódio
metálico

Em mim sobrou um espaço,
imenso espaço devastado,
certezas que era melhor não tê-las
e um amargor na boca,
ressaca eterna de um porre de vida

domingo, 22 de abril de 2012

Adeus


Um resto de sombras sufoca os gestos desconexos
e um casal galopa em pêlo sob a lua em chamas

Às quatro da manhã não resta senão um caminho inexato
e um lento prosseguir por entre árvores esfarrapadas com destino incerto
Às vezes, à direita, surge uma casa como se fosse a mesma,
monumento humano afogado em silêncio
através dos séculos

Não seria a mesma coisa dar-te a mão agora,
mármore frio, estátua de olhos azuis fixos nos leões do entardecer
Não seria a mesma coisa que um passado que não tive,
seria uma rua deserta até a eternidade
um gesto inútil no horizonte do tempo
sufocado lentamente num vento de sombras

22 horas


Um passo depois do outro
Caminho inútil as ruas da minha cidade

Custa o esforço de um quarteirão
abrir caminho à vida
entre o cinza dos muros e a ferragem retorcida

22 horas
Ruas quase desertas, uns poucos guardas
particulares que vigiam propriedades
Um cachorro perdido na esquina
Bancos fechados a espreita
anunciando a voracidade frenética de amanhã

Nos bares
imbecis, boêmios e poucas prostitutas
se amontoam nas mesas, traficam olhares
afogam angústias em álcool barato
para a satisfação de comerciantes ávidos de lucro

As 22 horas
farmácias dia e noite iluminadas de alto a baixo
esperam doentes apavorados e viciados de sempre
fregueses de anfetaminas

Custa o esforço de uma multidão
abrir caminho à vida
entre o cinza cinzento e o ferro das ferragens 
nas ruas da minha cidade 


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Três poemas


Ontem,
lendo Drummond de Andrade na cama,
projetei três poemas.

Tenho certeza que os três eram os melhores poemas de toda a minha vida.

Mas hoje,
tendo acordado,
tomado café,
brincado com minha filha e trocado-lhe as fraldas,
desde que sentei diante do computador não consigo lembrar mais que isso: eram os melhores poemas de toda a minha vida;
eram três;
eu os fiz lendo Drummond.

Agora,
eu os perdi.
Para sempre.

Nunca mais farei os três melhores poemas da minha vida.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Infância


Nasci num mundo que não existe mais.
Não tinha bonde, não tinha trem, nem luz elétrica.
As estradas eram caminhos abertos,
e a noite a gente iluminava
com o brilho dos olhos.

Meu vizinho mais próximo
morava a dois quilômetros.
Brincando de atirar pedra
me atirou uma faca na testa.
A maldade humana já existia
lá, como aqui.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dias inúteis

Há dias inúteis no tempo,
dias em que o tempo é nada
como se fosse possível.

Nenhum gesto, nenhum sorriso
nem mesmo um grito.
Simplesmente
o coração bate por vício
e respiramos por falta absoluta
do que fazer
         como monumentos
como monumentos fixados no tempo.

São dias em que o tempo fica preso
num desvão das horas
e junto com ele a vida
agoniza e chora
como cadela
          que é
abandonada para morrer.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Aniversário

Trago os olhos cansados, e alguns díspares de meias.
Nas vitrines, os manequins sorriem alegres,
e eu preciso resistir olhando o mundo.

Vinte e cinco anos neste país é metade de uma vida
e eu sequer tenho uma arma.

Aos poucos
vamos chegando,
com as mãos vazias e olheiras,
à metade derradeira de nossas vidas.

É tempo de solidão de novo. Tempo
de miséria absoluta.

Posso seguir vivendo assim? Posso
 resistir? Sobreviver ao tempo?
Às horas? Aos minutos?

O coração bate o estritamente necessário.
Em silêncio, os dias se sucedem.
Aos poucos acumulam ódio
e amor.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Sentido

Cidade dos anjos caídos
último erro
contornado de solidão.

Dias diversos
diversas noites
flores mortas sobre a mesa.

Beijos,
beijos sem cor
na noite interminável
afogada em vodka
e cansaço.

A vida não tem sentido
sem os olhos do desejo.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Fardo

Esta parte do mundo
vive de tentativas rápidas
e copos de cachaça frequentes

Nesta parte do mundo
o cansaço e a raiva
imperam sobre tudo
e o fundamental da vida
se perde em olhares bêbados

Aqui
a vida
é fardo

sábado, 3 de março de 2012

História do Brasil

O coração
os corações, grande
como nunca foi grande
foi pequena
até
a grandeza do Brasil.

Da primeira vez que eu vi
olhei em volta toda
essa tralha, essa
imensa tralha e
tive de rir.

Mas o riso era um mar
em revolta, era
um pranto, era
um canto
e voz torta.

Mesmo assim
o mar
não se abriu, a pedra
não verteu água, não
adiantaram rezas de espécie
alguma, os pães não
se multiplicaram.

O céu anil ficou
cinzento, a verde mata
morta, o ouro - dizem -
veio de moscou e
eu nunca vi.

Desde então
eu só vivi
entre a dor e a alegria
que se atordoa
com a certeza de saber
da primeira que eu vim
que é preciso pôr abaixo
todos os decretos
que é preciso derrotar
todas as bandeiras
que é preciso dar
um tiro no céu
com a espingarda
carregada de estrelas.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Entardecer

Leões de fogo
mergulham
no horizonte

O amor
exaure

Meu coração
leva tombos
entre as costelas

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sobre o telhado

Sobre
o telhado
horizonte
de luz

O leão
de fogo
mergulha
no horizonte

Exaure
como o amor

A vida
quase
perde
sentido

Ganha
outro

Amanhã
será
outro
dia

Amanhecerá
outro
dia

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Sonhos

Na última gaveta guardo sonhos.
Choro num congresso depois de dez anos.
Me emociono e me abraço. Frágil e solidário.
Me observo, perplexo.

Há um labirinto: estou perdido.
O mais solitário dos meninos.
Percorro galerias imensas.
Nunca chego onde não sei
e quero.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Distância

Os homens não sabem quanto é inútil
contar os dias, as horas
os minutos
com os números frios da matemática

Quando em me levantar
a vontade que eu tenho
é rasgar o cenário do dia
com as duas mãos que eu tenho
e subir clandestino
no primeiro avião

As regras, eu não respeito as regras
e hoje me sinto
anterior a tudo

Meus companheiros nunca disseram
que o amor podia ser tão grande
e a saudade tão dura

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Dialética

Senhores,
caminho ruas estúpidas
e debulho rosas nos becos

Hollywood nos lábios e uma barba tardia
fazem com que eu me sinta quase chegando
ou saindo

Nos bolsos
fatias de nuvens coloridas
são meu sustento diário

Sou um homem disposto a amar
não tenho sonhos distantes
não trago, não levo certezas
a vida resiste na morte
e o começo desiste no fim

Na verdade
isso é quase tudo
não fosse a dialética
e um cachorro gordo
feliz ali na esquina

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Existência

Um dia
sobre o outro.

Sacos cheios de vazio
empilhados feito corpos
num necrotério nazi-fascista.

Dias de glória
efêmera,
dias
de 24 horas
contadas,
dias de merda azul.

Algo sobre o Pacífico,
algo sobre o Atlântico,
um cravo vermelho.

Morte
e indagações.

Às 24 horas
seremos o quê?

Sofrimento em cores na tv?
Restos de mar na praia?
Anéis de Saturno em espelhos?
Vacilações?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Primavera

Esta
decisivamente esta
é uma primavera demente

Flores mais vivas
despedidas certeiras
noites quase tristes

A névoa
sobre a cidade
cimento
        e lágrimas
sobre o chão

Num quarto qualquer
 sobre o ferro verde
arde
um começo de saudade
um sorriso
uma paixão

Arquitetos do futuro
precisamos sempre partir
o coração do presente

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Estátuas

Tropeçando a loucura de cada dia
formas que vão para o nada

Espaços imensos
cimento, máquinas, corpos
por todos os lados

Pombos sobrevivem nas marquises
manadas bucólicas decadentes
cinza metálico sobre o cinza
cinzento

A noite abre suas pernas
cheirando a álcool e coito
interrompido

Nada detém o tempo
a dor
a chuva minúscula
escorrendo pelo neon
intermitente

As estátuas aqui são mais compreensivas e gentis

Cegas

Surdas

Imóveis sob o firmamento
assistem o assassínio
o suicídio
a miséria humana

São Paulo:
a esperança
em ti
não é possível

sábado, 7 de janeiro de 2012

Nosso Tempo

O meu, o teu, o nosso.
O que fazer dos destroços do tempo?
das mãos que constroem o mundo
sem saber pra onde, sem saber
pra quê? o que fazer do medo
escondido embaixo da cama?
do ódio? da angústia? da raiva?

O que fazer da raiva?

São coisas que cabem num verso.

A trepada, o tempo, a dúvida
não cabe num verso.
A xícara transformada em urna mortuária
das últimas horas grávidas de silêncio
não cabe num verso.

As mulheres,
são tão loucas as mulheres.
Sempre diferentes,
como meu mundo não é igual ao teu,
como tempo é diverso entre os homens.

É inútil.

No lado debaixo do mundo
o tempo respira nos becos como um animal.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ausência

É grande
a tua ausência
em mim

Sorriso
Ancas
Olhos verdes

Palavras
Abraços
Suor vermelho

É violentamente
doce
a tua ausência
em mim

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pássaros Azuis

Hoje
me fogem pássaros azuis do pulmão
e um vento de sombras
sufoca os gestos do amor

Sobram ilhas de tristeza
e saudade
sobram versos inúteis
e uma lágrima

Minhas mãos
afogadas em bolsos escuros
não sentirão
o calor do teu corpo
a geografia sinuosa das tuas ancas

Onde estarás agora?
Com quem? Que palavras
saem da tua boca? Para onde
se dirige o fogo de paixão do teu olhar?
Vamos perder para sempre também
este dia?

Hoje
de tristeza absoluta
vou guardar o coração
na última gaveta

Hoje
me fogem pássaros azuis
do pulmão