Quando eu nasci
Não tinha nenhum anjo perto de mim.
Então, eu mesmo disse:
Merda!
Depois
a cada vez que eu morri
fui renascendo mais duro
mais velho, mais só.
Hoje
não adianta dizer mais:
meu amor.
O amor dorme bêbado e fugitivo
à minha esquerda.
Não adianta dizer mais:
vamos juntos
colher pássaros azuis no horizonte.
Não adianta dizer mais:
eu te amo como um caminhão,
um caminhão vermelho.
Sobra uma única certeza:
a vida há de prosseguir
miserável como antes,
solitária como antes,
dura como antes.
Mas vamos estar inteiros
porque nenhum braço meu
ficará preso ao impossível.
Nenhuma perna minha
ficará perdida
nas esquinas do tempo.
Só meu coração, talvez,
esse peso inútil
no lado esquerdo do peito,
eu deixarei em casa
sobre a escrivaninha.
Segurando papéis e panfletos
como uma pedra
ou uma espátula.
sábado, 15 de dezembro de 2012
Amor
Ela veio depois da chuva
entrou na minha vida como um rinoceronte
um rinoceronte azul
Não deixou pedra sobre
pedra
revirou meu coração
chafurdou na minha cama
e disse sorrindo
que já era minha dona
Aos poucos
foram nascendo flores na casa
uma nova construção dos gestos e do tempo
a água e o cimento misturados com as mãos
o riso e a lágrima soldados com beijos
os gritos, os sentimentos roubados
em desordem, filhas
Eu queria lhe dar uma estrela
e os céus
os céus só me enviaram relâmpagos
Miseráveis
Felizmente
a vida é muito mais bonita que a poesia
entrou na minha vida como um rinoceronte
um rinoceronte azul
Não deixou pedra sobre
pedra
revirou meu coração
chafurdou na minha cama
e disse sorrindo
que já era minha dona
Aos poucos
foram nascendo flores na casa
uma nova construção dos gestos e do tempo
a água e o cimento misturados com as mãos
o riso e a lágrima soldados com beijos
os gritos, os sentimentos roubados
em desordem, filhas
Eu queria lhe dar uma estrela
e os céus
os céus só me enviaram relâmpagos
Miseráveis
Felizmente
a vida é muito mais bonita que a poesia
Acordei com saudades
Estranho
faz cinco anos
- seis? -
um dia ela disse
tchau!
Quem está vivo
sempre se encontra.
Depois
vieram atalhos
viagens, desprezos
loucuras e prazeres
Habitei
centenas de lugares
rasguei o mundo
com as mãos
abri
milhares de portas
e não estavas
atrás de nenhuma
Eu me lembro
o que ela tinha de melhor
era um sorriso
um jeito
Hoje eu duvido
quem está vivo
nem sempre se encontra
faz cinco anos
- seis? -
um dia ela disse
tchau!
Quem está vivo
sempre se encontra.
Depois
vieram atalhos
viagens, desprezos
loucuras e prazeres
Habitei
centenas de lugares
rasguei o mundo
com as mãos
abri
milhares de portas
e não estavas
atrás de nenhuma
Eu me lembro
o que ela tinha de melhor
era um sorriso
um jeito
Hoje eu duvido
quem está vivo
nem sempre se encontra
Todos os sentimentos estão aqui
A tua presença
água verde, seios
cristalinos, ancas
ondas
quebrando as costelas
A tua ausência
o branco e o preto
o silêncio seco
o peito árido
Desertos
Eu
feito touro às vezes
o coração feito
tigre
O vinho
me mantém no ar
Gritos de guerra
lanças
fronteira de sonhos
vento
duas mãos
e nenhuma arma
A certeza
a dor
o ódio
o amor
em desordem
Os séculos
passam
Só o vinho
me mantém
no ar.
água verde, seios
cristalinos, ancas
ondas
quebrando as costelas
A tua ausência
o branco e o preto
o silêncio seco
o peito árido
Desertos
Eu
feito touro às vezes
o coração feito
tigre
O vinho
me mantém no ar
Gritos de guerra
lanças
fronteira de sonhos
vento
duas mãos
e nenhuma arma
A certeza
a dor
o ódio
o amor
em desordem
Os séculos
passam
Só o vinho
me mantém
no ar.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Hollywood
Eu te amo
e vou repetir sempre
tantas vez que terão de inventar
uma nova matemática
Mesmo assim
quando isso acontecer já será inútil
porque de novo não terão como calcular
quantas vezes eu te disse
eu te amo
Agora
eu queria te dizer uma coisa
uma só
Não te amo muito
ou pouco ou
demais
Não te amo como nos filmes de Hollywood
como nas novelas da Globo
ou nas peças de Shakespeare
Nem te amo
talvez
como queres
Eu te amo
como
sou
Com meus díspares de meias
meus defeitos todos
meus acertos poucos
meus medos
minhas bandeiras ao vento
com tudo o que trago dentro
do coração
e vou repetir sempre
tantas vez que terão de inventar
uma nova matemática
Mesmo assim
quando isso acontecer já será inútil
porque de novo não terão como calcular
quantas vezes eu te disse
eu te amo
Agora
eu queria te dizer uma coisa
uma só
Não te amo muito
ou pouco ou
demais
Não te amo como nos filmes de Hollywood
como nas novelas da Globo
ou nas peças de Shakespeare
Nem te amo
talvez
como queres
Eu te amo
como
sou
Com meus díspares de meias
meus defeitos todos
meus acertos poucos
meus medos
minhas bandeiras ao vento
com tudo o que trago dentro
do coração
Exagerado
Obstáculo
intransponível
dar
conta de amor tamanho
por
breve o tempo
da
minha vida
Certeza
intransferível
da
urgência do presente
Exagerada
paixão
Paixão
exagerada
Inútil
Inútil
insistir na espera.
O
trem do amor
passou.
Agora
tudo
foi em vão.
A
estação da vida
agora
foi.
Resta
pouco.
Resta
tempo.
Mármore
branco
sobre
tudo.
Inexorável.
Limite
No centro da casa
a loucura cobra o seu preço:
o mundo adquire contornos
paisagem após a miséria
cotidiana
Não existe rota de fuga ou certeza
Somente os apaixonados acreditam na eternidade do futuro
Agora cabe construir o tempo com mãos frágeis
Difícil conquista
entre o cinza concreto
e as margaridas
azuis, margaridas verti
cais, margaridas fi
xas, margaridas a
margas
a loucura cobra o seu preço:
o mundo adquire contornos
paisagem após a miséria
cotidiana
Não existe rota de fuga ou certeza
Somente os apaixonados acreditam na eternidade do futuro
Agora cabe construir o tempo com mãos frágeis
Difícil conquista
entre o cinza concreto
e as margaridas
azuis, margaridas verti
cais, margaridas fi
xas, margaridas a
margas
Tempo
Vivi
num tempo em que o tempo existia
Levava-se
horas para ir de um lugar a outro e
no
inverno
tomava-se
banho uma vez por semana
No
verão
até
banho de chuva
pelado
no
campo
cercado
de horizontes
era
permitido
A
água caía limpa
em
grossas gotas mornas
lavando
o corpo e os
pecados
Agora,
não existe mais tempo
Inventaram
a fibra ótica e a gente
vai
poder estar em qualquer parte
num
segundo
Agora,
via
fax,
a
distância entre a minha casa
e
a Praça do Avião
é
mesma que daqui
até
o Japão
Por
isso
agora
que não existe mais tempo
ou
distância
só
nos resta concluir
que
não existimos mais
nem
existe mais nada
ou
coisíssima alguma
Eu,
de minha parte, me precavi
Trago
no bolso esquerdo
sempre
um pouco de tempo
enquanto
que no direito
guardo
alguma distância
Minha
distância é feita
de
horizontes sem fim,
e
o tempo
é
dos que não existem mais
É
feito de noite e dia
e
dá direito
às
quatro estações
Memória
A
vida que eu tive
hoje
é passado
passado
não
morto e enterrado
porque
ódio não tenho
tenho
a memória em retalhos
Inominável
Todos
os dias como peras
todos
os dias como
peras
sob
o sol
calor
e suor
solerte
salmos
e sós
como
rosas
despetaladas
testemunha
da vida
que
houve
do
vermelho
desfiando
a paisagem
e
agora quase nada
quase
tudo
na
beleza que há
cheiro
de rosas no cio
perfume
das coxas
seios
delicados
montanhas
de prazer
um
grito, um gemido
igual
a si próprio
inominável
ventre
do
paraíso
melhor
que tudo do amor
eu
não sei dizer.
Naufrágio
O
amor se esborrachou no meio do caminho
Lutei
até
mais não poder
Agora
meu
coração leva tombos
entre
as costelas
Náufrago
de sonhos
afogo
incertezas
cachaça
limão
e gelo
Um
homem
confrontado
com seus limites
a
assistir impassível
o
trabalho do tempo
tecendo
a explosão dos dias
em
horas incontroláveis
Modernidade
Drummond
que me desculpe:
O
dia de hoje não tem memória
e
este é um tempo decisivo
tempo
de coma alcoólica
e
discurso improvisado
Aos
poucos
a
cidade se move
cidade
dura
num
tempo duro
cheio
de ruas
decisivas,
esquinas
incontroláveis,
restos
das
horas.
Amor
Ando
em em nuvens
quando
te vejo
Tenho
forças
sentimentos
exagerados
Exagerados
Te
amo
sem
saber quanto
Sei
que
não cabe em mim
Cidade
Muros
de cimento
O
cinza penetra os ossos
e
quebra
O
vinho, a cachaça, o sonho, a cerveja,
o
conhaque, o delírio
é
melhor
As
ruas
da
minha cidade
não
têm esquinas
ou
fuga
possível
Inútil
a
diária
brutalidade
Fim
Agora
é a ante-véspera do fim
Nenhuma
tragédia, nenhum drama, nenhum
transcrescimento,
apenas um
triste
e melancólico
fim
Um
fim
solitário
inacessível
distante
além da distância
fim
em si mesmo
nuclear,
fatal
Um
fim somente
demente
incompreensível
anterior
a tudo
posterior
a nada
Um
fim desfecho
desenlace,
limite, esgotamento
exaustão
Um
fim extremado
conclusivo,
consumido
finalizado
Um
fim medíocre
reles
desses
que não tem significado
não
são esperados
ninguém
lembra
não
tem qualquer
importância
Um
fim
simples,
um fim
que
encerra, que acaba, que fecha, que
extingue,
termina, cessa, mata e que
é
triste por isso: porque
é
apenas um triste
melancólico
medíocre
fim
Pequeno
Hoje
não estás
no
lado esquerdo da cama
Hoje
tenho
apenas tua ausência
os
medos comuns
e
alguns desconhecidos
de
te perder
Medos
idiotas, eu sei
medos
loucos, medos
de
amor
É
que a saudade
esta
puta sempre triste e cinzenta
sentou
a minha mesa
e
fuma os meus cigarros
um
atrás do outro
Eu
queria tanto
dizer
que te amo tanto
mas
de um jeito tão enorme de grande
que
todas as mulheres do mundo
morreriam
de inveja
Por
isto
quando
chegares daqui a pouco
guerreira
e cansada do trabalho
desculpa
o jeito meio atravessado
é
que eu te amo tão assim
que
eu nem sei
Notas
O dia de hoje não tem memória
atravessou a noite feito celerado
enquanto milhares de rosas bateram asas para o oeste azul
e a água solitária restou sobre a mesa doendo pássaros feridos nos olhos
No lado norte da vida
quebraram minhas costelas e o silêncio seco
Mas a lua grande nas costas foi insuficiente para enterrar meu coração na estrada
O sol e a incerteza moveram a cidade e as esquinas duras cheias de desvios cristalizados
Revirei o verde dos teus olhos com um punhal até encontrar a luz ardente
Cortei corpos pelo caminho e só enterrei meus mortos necessários
Construí impérios sobre o vermelho e mudei a paisagem
Não disse adeus, não disse quase nada
Não
O dia de hoje não tem memória nem fotografia
atravessou a noite feito celerado cortando pedaços de noite com um machado
milhares de rosas bateram asas para o oeste azul em busca do sol cálido
e a água solitária restou sobre a mesa doendo pássaros feridos
Não disse adeus, não disse quase nada
Mergulhei no verde dos teus olhos até encontrar a luz ardente
Este tempo é andaime comprometido com a beleza da emoção
que fiquem sabendo as mulheres que serão paridas
as raízes, a lua áspera
Este tempo é um e se multiplica nos céus esverdeados
que fiquem sabendo as ruas tortas, os becos de chumbo
as estrelas solitárias
Quando começar a guerra interminável
minha boca gritará gritos de tigre durante o ataque fulminante
mas sempre sobrará tempo
para dar-te um beijo
tempo para um sorriso diante do verde mar dos teus olhos verdes
nas tardes verdes do nosso tempo
Quando acabarem minhas culpas terei construído um edifício de mármore azul
uma pirâmide de gestos delicados para ser vista no lado avesso do mundo
e uma estrada de oito pistas
Quando acabarem minhas culpas lavarei o assoalho da minha alma com água cristalina
e deixarei meu coração vermelho exposto ao sol, ainda que o sol de mim tenha ciúmes
Eu sei, nada será como antes
O sol e a incerteza moveram a cidade e as esquinas duras cheias de desvios cristalizados
Muitas pontes se foram durante o caminho das pedras
Ruíram no rio das horas intermináveis que não pudemos suportar
atravessou a noite feito celerado
enquanto milhares de rosas bateram asas para o oeste azul
e a água solitária restou sobre a mesa doendo pássaros feridos nos olhos
No lado norte da vida
quebraram minhas costelas e o silêncio seco
Mas a lua grande nas costas foi insuficiente para enterrar meu coração na estrada
O sol e a incerteza moveram a cidade e as esquinas duras cheias de desvios cristalizados
Revirei o verde dos teus olhos com um punhal até encontrar a luz ardente
Cortei corpos pelo caminho e só enterrei meus mortos necessários
Construí impérios sobre o vermelho e mudei a paisagem
Não disse adeus, não disse quase nada
Não
O dia de hoje não tem memória nem fotografia
atravessou a noite feito celerado cortando pedaços de noite com um machado
milhares de rosas bateram asas para o oeste azul em busca do sol cálido
e a água solitária restou sobre a mesa doendo pássaros feridos
Não disse adeus, não disse quase nada
Mergulhei no verde dos teus olhos até encontrar a luz ardente
Este tempo é andaime comprometido com a beleza da emoção
que fiquem sabendo as mulheres que serão paridas
as raízes, a lua áspera
Este tempo é um e se multiplica nos céus esverdeados
que fiquem sabendo as ruas tortas, os becos de chumbo
as estrelas solitárias
Quando começar a guerra interminável
minha boca gritará gritos de tigre durante o ataque fulminante
mas sempre sobrará tempo
para dar-te um beijo
tempo para um sorriso diante do verde mar dos teus olhos verdes
nas tardes verdes do nosso tempo
Quando acabarem minhas culpas terei construído um edifício de mármore azul
uma pirâmide de gestos delicados para ser vista no lado avesso do mundo
e uma estrada de oito pistas
Quando acabarem minhas culpas lavarei o assoalho da minha alma com água cristalina
e deixarei meu coração vermelho exposto ao sol, ainda que o sol de mim tenha ciúmes
Eu sei, nada será como antes
O sol e a incerteza moveram a cidade e as esquinas duras cheias de desvios cristalizados
Muitas pontes se foram durante o caminho das pedras
Ruíram no rio das horas intermináveis que não pudemos suportar
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Uma rosa
Te dou uma rosa que não é
uma rosa mas o lado
norte
do meu coração
É que os outros
os outros, meu amor
não servem pra ninguém, nem pra
nada
a não ser para encherem-se de
medo às vezes
ódio, dúvida e outras coisas
absurdas
como o aço de um punhal
ou a compaixão
por nossos
inimigos
Mas apesar de tudo
desde hoje e para sempre
uma coisa é certa
esta rosa
que não é uma
rosa seguirá em tuas
mãos assim como
tu
seguirás comigo
ao assalto
ao assalto
dos céus
uma rosa mas o lado
norte
do meu coração
É que os outros
os outros, meu amor
não servem pra ninguém, nem pra
nada
a não ser para encherem-se de
medo às vezes
ódio, dúvida e outras coisas
absurdas
como o aço de um punhal
ou a compaixão
por nossos
inimigos
Mas apesar de tudo
desde hoje e para sempre
uma coisa é certa
esta rosa
que não é uma
rosa seguirá em tuas
mãos assim como
tu
seguirás comigo
ao assalto
ao assalto
dos céus
FINAL
Ela
saiu da minha vida
como
um rinoceronte
um
rinoceronte
de aço
dono
de toda fúria
de
toda raiva, de todo
ódio
metálico
Em
mim sobrou um espaço,
imenso
espaço devastado,
certezas
que era melhor não tê-las
e
um amargor na boca,
ressaca
eterna de um porre de vida
domingo, 22 de abril de 2012
Adeus
Um resto de sombras sufoca os gestos desconexos
e um casal galopa em pêlo sob a lua em chamas
Às quatro da manhã não resta senão um caminho inexato
e um lento prosseguir por entre árvores esfarrapadas
com destino incerto
Às vezes, à direita, surge uma casa como se fosse a
mesma,
monumento humano afogado em silêncio
através dos séculos
Não seria a mesma coisa dar-te a mão agora,
mármore frio, estátua de olhos azuis fixos nos leões
do entardecer
Não seria a mesma coisa que um passado que não tive,
seria uma rua deserta até a eternidade
um gesto inútil no horizonte do tempo
sufocado lentamente num vento de sombras
22 horas
Um passo depois do outro Caminho inútil as ruas da minha cidade Custa o esforço de um quarteirão abrir caminho à vida entre o cinza dos muros e a ferragem retorcida 22 horas Ruas quase desertas, uns poucos guardas particulares que vigiam propriedades Um cachorro perdido na esquina Bancos fechados a espreita anunciando a voracidade frenética de amanhã Nos bares imbecis, boêmios e poucas prostitutas se amontoam nas mesas, traficam olhares afogam angústias em álcool barato para a satisfação de comerciantes ávidos de lucro As 22 horas farmácias dia e noite iluminadas de alto a baixo esperam doentes apavorados e viciados de sempre fregueses de anfetaminas Custa o esforço de uma multidão abrir caminho à vida entre o cinza cinzento e o ferro das ferragens
nas ruas da minha cidade
quarta-feira, 4 de abril de 2012
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Três poemas
Ontem,
lendo
Drummond de Andrade na cama,
projetei
três poemas.
Tenho
certeza que os três eram os melhores poemas de toda a minha vida.
Mas
hoje,
tendo
acordado,
tomado
café,
brincado
com minha filha e trocado-lhe as fraldas,
desde
que sentei diante do computador não consigo lembrar mais que isso: eram os
melhores poemas de toda a minha vida;
eram
três;
eu
os fiz lendo Drummond.
Agora,
eu
os perdi.
Para
sempre.
Nunca
mais farei os três melhores poemas da minha vida.
sexta-feira, 30 de março de 2012
Infância
Nasci
num mundo que não existe mais.
Não
tinha bonde, não tinha trem, nem luz elétrica.
As
estradas eram caminhos abertos,
e a
noite a gente iluminava
com
o brilho dos olhos.
Meu
vizinho mais próximo
morava
a dois quilômetros.
Brincando
de atirar pedra
me
atirou uma faca na testa.
A
maldade humana já existia
lá,
como aqui.
quarta-feira, 21 de março de 2012
Dias inúteis
Há dias inúteis no tempo,
dias em que o tempo é nada
como se fosse possível.
Nenhum gesto, nenhum sorriso
nem mesmo um grito.
Simplesmente
o coração bate por vício
e respiramos por falta absoluta
do que fazer
como monumentos
como monumentos fixados no tempo.
São dias em que o tempo fica preso
num desvão das horas
e junto com ele a vida
agoniza e chora
como cadela
que é
abandonada para morrer.
dias em que o tempo é nada
como se fosse possível.
Nenhum gesto, nenhum sorriso
nem mesmo um grito.
Simplesmente
o coração bate por vício
e respiramos por falta absoluta
do que fazer
como monumentos
como monumentos fixados no tempo.
São dias em que o tempo fica preso
num desvão das horas
e junto com ele a vida
agoniza e chora
como cadela
que é
abandonada para morrer.
sexta-feira, 16 de março de 2012
Aniversário
Trago os olhos cansados, e alguns díspares de meias.
Nas vitrines, os manequins sorriem alegres,
e eu preciso resistir olhando o mundo.
Vinte e cinco anos neste país é metade de uma vida
e eu sequer tenho uma arma.
Aos poucos
vamos chegando,
com as mãos vazias e olheiras,
à metade derradeira de nossas vidas.
É tempo de solidão de novo. Tempo
de miséria absoluta.
Posso seguir vivendo assim? Posso
resistir? Sobreviver ao tempo?
Às horas? Aos minutos?
O coração bate o estritamente necessário.
Em silêncio, os dias se sucedem.
Aos poucos acumulam ódio
e amor.
Nas vitrines, os manequins sorriem alegres,
e eu preciso resistir olhando o mundo.
Vinte e cinco anos neste país é metade de uma vida
e eu sequer tenho uma arma.
Aos poucos
vamos chegando,
com as mãos vazias e olheiras,
à metade derradeira de nossas vidas.
É tempo de solidão de novo. Tempo
de miséria absoluta.
Posso seguir vivendo assim? Posso
resistir? Sobreviver ao tempo?
Às horas? Aos minutos?
O coração bate o estritamente necessário.
Em silêncio, os dias se sucedem.
Aos poucos acumulam ódio
e amor.
quarta-feira, 14 de março de 2012
Sentido
Cidade dos anjos caídos
último erro
contornado de solidão.
Dias diversos
diversas noites
flores mortas sobre a mesa.
Beijos,
beijos sem cor
na noite interminável
afogada em vodka
e cansaço.
A vida não tem sentido
sem os olhos do desejo.
último erro
contornado de solidão.
Dias diversos
diversas noites
flores mortas sobre a mesa.
Beijos,
beijos sem cor
na noite interminável
afogada em vodka
e cansaço.
A vida não tem sentido
sem os olhos do desejo.
quinta-feira, 8 de março de 2012
segunda-feira, 5 de março de 2012
Fardo
Esta parte do mundo
vive de tentativas rápidas
e copos de cachaça frequentes
Nesta parte do mundo
o cansaço e a raiva
imperam sobre tudo
e o fundamental da vida
se perde em olhares bêbados
Aqui
a vida
é fardo
vive de tentativas rápidas
e copos de cachaça frequentes
Nesta parte do mundo
o cansaço e a raiva
imperam sobre tudo
e o fundamental da vida
se perde em olhares bêbados
Aqui
a vida
é fardo
domingo, 4 de março de 2012
sábado, 3 de março de 2012
História do Brasil
O coração
os corações, grande
como nunca foi grande
foi pequena
até
a grandeza do Brasil.
Da primeira vez que eu vi
olhei em volta toda
essa tralha, essa
imensa tralha e
tive de rir.
Mas o riso era um mar
em revolta, era
um pranto, era
um canto
e voz torta.
Mesmo assim
o mar
não se abriu, a pedra
não verteu água, não
adiantaram rezas de espécie
alguma, os pães não
se multiplicaram.
O céu anil ficou
cinzento, a verde mata
morta, o ouro - dizem -
veio de moscou e
eu nunca vi.
Desde então
eu só vivi
entre a dor e a alegria
que se atordoa
com a certeza de saber
da primeira que eu vim
que é preciso pôr abaixo
todos os decretos
que é preciso derrotar
todas as bandeiras
que é preciso dar
um tiro no céu
com a espingarda
carregada de estrelas.
os corações, grande
como nunca foi grande
foi pequena
até
a grandeza do Brasil.
Da primeira vez que eu vi
olhei em volta toda
essa tralha, essa
imensa tralha e
tive de rir.
Mas o riso era um mar
em revolta, era
um pranto, era
um canto
e voz torta.
Mesmo assim
o mar
não se abriu, a pedra
não verteu água, não
adiantaram rezas de espécie
alguma, os pães não
se multiplicaram.
O céu anil ficou
cinzento, a verde mata
morta, o ouro - dizem -
veio de moscou e
eu nunca vi.
Desde então
eu só vivi
entre a dor e a alegria
que se atordoa
com a certeza de saber
da primeira que eu vim
que é preciso pôr abaixo
todos os decretos
que é preciso derrotar
todas as bandeiras
que é preciso dar
um tiro no céu
com a espingarda
carregada de estrelas.
quinta-feira, 1 de março de 2012
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Entardecer
Leões de fogo
mergulham
no horizonte
O amor
exaure
Meu coração
leva tombos
entre as costelas
mergulham
no horizonte
O amor
exaure
Meu coração
leva tombos
entre as costelas
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Sobre o telhado
Sobre
o telhado
horizonte
de luz
O leão
de fogo
mergulha
no horizonte
Exaure
como o amor
A vida
quase
perde
sentido
Ganha
outro
Amanhã
será
outro
dia
Amanhecerá
outro
dia
o telhado
horizonte
de luz
O leão
de fogo
mergulha
no horizonte
Exaure
como o amor
A vida
quase
perde
sentido
Ganha
outro
Amanhã
será
outro
dia
Amanhecerá
outro
dia
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
sábado, 11 de fevereiro de 2012
Sonhos
Na última gaveta guardo sonhos.
Choro num congresso depois de dez anos.
Me emociono e me abraço. Frágil e solidário.
Me observo, perplexo.
Há um labirinto: estou perdido.
O mais solitário dos meninos.
Percorro galerias imensas.
Nunca chego onde não sei
e quero.
Choro num congresso depois de dez anos.
Me emociono e me abraço. Frágil e solidário.
Me observo, perplexo.
Há um labirinto: estou perdido.
O mais solitário dos meninos.
Percorro galerias imensas.
Nunca chego onde não sei
e quero.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Distância
Os homens não sabem quanto é inútil
contar os dias, as horas
os minutos
com os números frios da matemática
Quando em me levantar
a vontade que eu tenho
é rasgar o cenário do dia
com as duas mãos que eu tenho
e subir clandestino
no primeiro avião
As regras, eu não respeito as regras
e hoje me sinto
anterior a tudo
Meus companheiros nunca disseram
que o amor podia ser tão grande
e a saudade tão dura
contar os dias, as horas
os minutos
com os números frios da matemática
Quando em me levantar
a vontade que eu tenho
é rasgar o cenário do dia
com as duas mãos que eu tenho
e subir clandestino
no primeiro avião
As regras, eu não respeito as regras
e hoje me sinto
anterior a tudo
Meus companheiros nunca disseram
que o amor podia ser tão grande
e a saudade tão dura
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Dialética
Senhores,
caminho ruas estúpidas
e debulho rosas nos becos
Hollywood nos lábios e uma barba tardia
fazem com que eu me sinta quase chegando
ou saindo
Nos bolsos
fatias de nuvens coloridas
são meu sustento diário
Sou um homem disposto a amar
não tenho sonhos distantes
não trago, não levo certezas
a vida resiste na morte
e o começo desiste no fim
Na verdade
isso é quase tudo
não fosse a dialética
e um cachorro gordo
feliz ali na esquina
caminho ruas estúpidas
e debulho rosas nos becos
Hollywood nos lábios e uma barba tardia
fazem com que eu me sinta quase chegando
ou saindo
Nos bolsos
fatias de nuvens coloridas
são meu sustento diário
Sou um homem disposto a amar
não tenho sonhos distantes
não trago, não levo certezas
a vida resiste na morte
e o começo desiste no fim
Na verdade
isso é quase tudo
não fosse a dialética
e um cachorro gordo
feliz ali na esquina
sábado, 28 de janeiro de 2012
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Existência
Um dia
sobre o outro.
Sacos cheios de vazio
empilhados feito corpos
num necrotério nazi-fascista.
Dias de glória
efêmera,
dias
de 24 horas
contadas,
dias de merda azul.
Algo sobre o Pacífico,
algo sobre o Atlântico,
um cravo vermelho.
Morte
e indagações.
Às 24 horas
seremos o quê?
Sofrimento em cores na tv?
Restos de mar na praia?
Anéis de Saturno em espelhos?
Vacilações?
sobre o outro.
Sacos cheios de vazio
empilhados feito corpos
num necrotério nazi-fascista.
Dias de glória
efêmera,
dias
de 24 horas
contadas,
dias de merda azul.
Algo sobre o Pacífico,
algo sobre o Atlântico,
um cravo vermelho.
Morte
e indagações.
Às 24 horas
seremos o quê?
Sofrimento em cores na tv?
Restos de mar na praia?
Anéis de Saturno em espelhos?
Vacilações?
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Primavera
Esta
decisivamente esta
é uma primavera demente
Flores mais vivas
despedidas certeiras
noites quase tristes
A névoa
sobre a cidade
cimento
e lágrimas
sobre o chão
Num quarto qualquer
sobre o ferro verde
arde
um começo de saudade
um sorriso
uma paixão
Arquitetos do futuro
precisamos sempre partir
o coração do presente
decisivamente esta
é uma primavera demente
Flores mais vivas
despedidas certeiras
noites quase tristes
A névoa
sobre a cidade
cimento
e lágrimas
sobre o chão
Num quarto qualquer
sobre o ferro verde
arde
um começo de saudade
um sorriso
uma paixão
Arquitetos do futuro
precisamos sempre partir
o coração do presente
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Estátuas
Tropeçando a loucura de cada dia
formas que vão para o nada
Espaços imensos
cimento, máquinas, corpos
por todos os lados
Pombos sobrevivem nas marquises
manadas bucólicas decadentes
cinza metálico sobre o cinza
cinzento
A noite abre suas pernas
cheirando a álcool e coito
interrompido
Nada detém o tempo
a dor
a chuva minúscula
escorrendo pelo neon
intermitente
As estátuas aqui são mais compreensivas e gentis
Cegas
Surdas
Imóveis sob o firmamento
assistem o assassínio
o suicídio
a miséria humana
São Paulo:
a esperança
em ti
não é possível
formas que vão para o nada
Espaços imensos
cimento, máquinas, corpos
por todos os lados
Pombos sobrevivem nas marquises
manadas bucólicas decadentes
cinza metálico sobre o cinza
cinzento
A noite abre suas pernas
cheirando a álcool e coito
interrompido
Nada detém o tempo
a dor
a chuva minúscula
escorrendo pelo neon
intermitente
As estátuas aqui são mais compreensivas e gentis
Cegas
Surdas
Imóveis sob o firmamento
assistem o assassínio
o suicídio
a miséria humana
São Paulo:
a esperança
em ti
não é possível
sábado, 7 de janeiro de 2012
Nosso Tempo
O meu, o teu, o nosso.
O que fazer dos destroços do tempo?
das mãos que constroem o mundo
sem saber pra onde, sem saber
pra quê? o que fazer do medo
escondido embaixo da cama?
do ódio? da angústia? da raiva?
O que fazer da raiva?
São coisas que cabem num verso.
A trepada, o tempo, a dúvida
não cabe num verso.
A xícara transformada em urna mortuária
das últimas horas grávidas de silêncio
não cabe num verso.
As mulheres,
são tão loucas as mulheres.
Sempre diferentes,
como meu mundo não é igual ao teu,
como tempo é diverso entre os homens.
É inútil.
No lado debaixo do mundo
o tempo respira nos becos como um animal.
O que fazer dos destroços do tempo?
das mãos que constroem o mundo
sem saber pra onde, sem saber
pra quê? o que fazer do medo
escondido embaixo da cama?
do ódio? da angústia? da raiva?
O que fazer da raiva?
São coisas que cabem num verso.
A trepada, o tempo, a dúvida
não cabe num verso.
A xícara transformada em urna mortuária
das últimas horas grávidas de silêncio
não cabe num verso.
As mulheres,
são tão loucas as mulheres.
Sempre diferentes,
como meu mundo não é igual ao teu,
como tempo é diverso entre os homens.
É inútil.
No lado debaixo do mundo
o tempo respira nos becos como um animal.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Ausência
É grande
a tua ausência
em mim
Sorriso
Ancas
Olhos verdes
Palavras
Abraços
Suor vermelho
É violentamente
doce
a tua ausência
em mim
a tua ausência
em mim
Sorriso
Ancas
Olhos verdes
Palavras
Abraços
Suor vermelho
É violentamente
doce
a tua ausência
em mim
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Pássaros Azuis
Hoje
me fogem pássaros azuis do pulmão
e um vento de sombras
sufoca os gestos do amor
Sobram ilhas de tristeza
e saudade
sobram versos inúteis
e uma lágrima
Minhas mãos
afogadas em bolsos escuros
não sentirão
o calor do teu corpo
a geografia sinuosa das tuas ancas
Onde estarás agora?
Com quem? Que palavras
saem da tua boca? Para onde
se dirige o fogo de paixão do teu olhar?
Vamos perder para sempre também
este dia?
Hoje
de tristeza absoluta
vou guardar o coração
na última gaveta
Hoje
me fogem pássaros azuis
do pulmão
me fogem pássaros azuis do pulmão
e um vento de sombras
sufoca os gestos do amor
Sobram ilhas de tristeza
e saudade
sobram versos inúteis
e uma lágrima
Minhas mãos
afogadas em bolsos escuros
não sentirão
o calor do teu corpo
a geografia sinuosa das tuas ancas
Onde estarás agora?
Com quem? Que palavras
saem da tua boca? Para onde
se dirige o fogo de paixão do teu olhar?
Vamos perder para sempre também
este dia?
Hoje
de tristeza absoluta
vou guardar o coração
na última gaveta
Hoje
me fogem pássaros azuis
do pulmão
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
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